A profundidade do àsana
- Elaine Moreli
- 22 de mar. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 20 de nov. de 2022
Além disso, não há mais nada – e tudo!

“... o que está envolvido na realização de um àsana, apenas na disciplina dos àsanas, todos os 8 níveis do ioga estão envolvidos, do yama e niyama até o samadhi. Trato propositalmente da profundidade dos vários níveis envolvidos na realização dos àsanas, porque, no Ocidente, essa disciplina é muitas vezes considerada apenas uma prática de exercícios físicos.
Quando começamos a trabalhar na execução dos àsanas, todos iniciamos apenas arranhando a superfície da postura: nosso trabalho, na postura, é periférico, e isso é chamado de ação conativa.
O termo conatus significa esforço, impulso, e conação é o aspecto ativo da mente, que inclui desejo e volição. A ação conativa é simplesmente à ação física no seu nível mais direto.
Depois, quando estivermos realizando fisicamente a postura, a pele, os olhos, ouvidos, nariz e a língua – todos os órgãos da percepção – sentem, de repente, o que está acontecendo com a carne. Isso é chamado de ação cognitiva: a pele conhece, reconhece a ação da carne.
O terceiro estágio, que chamo de comunicação ou comunhão, tem início quando a mente observa o contato entre cognição da pele e ação conativa da carne, e assim chegamos a ação mental do àsana. Nesse estágio, a mente entra em ação e é atraída pelos órgãos da percepção na direção dos órgãos de ação, sentindo exatamente o que está acontecendo.
A mente age como uma ponte entre o movimento muscular e a ação dos órgãos da percepção, introduzindo o intelecto, e ligando-o com todas as partes do corpo – fibras tecidos e células, mesmo os poros mais superficiais da pele. Quando a mente entra em ação, surge em nós uma nova percepção. Observamos com atenção e lembramos da sensação da ação. Sentimos o que está acontecendo em nosso corpo, e nossa recordação pergunta: “o que é isso que sinto agora e que não sentia antes?”.
Discriminamos com a mente. A mente discriminativa observa e analisa a sensação da parte da frente, de trás de dentro e fora do corpo. Esse estágio é conhecido como ação reflexiva.
Finalmente, quando existe uma ação total da ação sem quaisquer flutuações do alongamento, então a ação conativa, a ação cognitiva, a ação mental, e a ação reflexiva se reúnem todas para compor a conscientização plena, do âmago à pele e da pele ao âmago do ser. Essa é a prática espiritual do ioga.
O Corpo compreende três dimensões, compostas por várias camadas. O corpo denso, chamado sthula-sarira, corresponde à camada física ou anatômica (annamaya –kosa) . O corpo sutil ou suksma-sarira é composto da camada fisiológica (pranamaya-kosa), da camada mental (manomaya-kosa) e da camada intelectual (vijñanamaya-kosa). O corpo mais interior, do qual dependem os outros, é chamado causal ou karana-sarira. Essa é a camada espiritual da alegria (anandamaya-kosa). Quando todas essas camadas se reúnem em cada um de nossos trilhões de células - quando existe unidade, da célula ao eu, do corpo físico ao âmago, do ser - então essa postura se torna contemplativa e atingimos o estado mais elevado de contemplação do àsana.
Isso é conhecido como integração, descrito por Patanjali no terceiro cap. de Yoga Sutras, e envolve a integração do corpo (sarira-samyama), a integração da respiração (prana-samyama), a integração dos sentidos (indrya-samyama), a integração da mente (manah- samyama), a integração da inteligência ou do conhecimento(buddhy – samyama ou jnana-samyama) e finalmente, a integração do eu com a totalidade da existência (atma-samyama).
É assim que os àsanas devem ser executados. Não vêm com um dia de prática, e nem com anos de prática. É um processo para a vida toda, desde que o praticante tenha as vitaminas iogues: fé, memória, coragem, absorção e um fio ininterrupto de atenção consciente.
Essas são as 5 vitaminas exigidas pela prática do ioga. Com elas, você pode conquistar as cinco camadas do corpo e tornar-se uno com o Self Universal.
Como ioga significa integração, reunião, decorre que reunir corpo e mente, natureza e observador, é ioga. Além disso, não há mais nada – e tudo!".
"A potência da natureza flui com abundância no iogue que é perfeito".
Fonte: A árvore do ioga (A eterna sabedoria do ioga aplicada à vida diária) - B. K. S Iyengar
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